" Olhos de Lázaro "

Coração de mãe costuma de ser á prova de quase tudo, mas ontem o meu ficou ficou tão apertado que não pude conter minhas lágrimas na rua.

No momento em que fui pegar as crianças na escola estava muuuito frio, além de uma garoinha gelada que insistia em cair; quando consegui enxergar os meus anjinhos, percebi que brincavam com um garotinho franzino que vestia camiseta,bermuda e chinelos. Instintivamente perguntei-lhe seu nome :" é Lázaro,tia" - ele me respondeu sorrindo,embora tremesse de frio. Eu imediatamente dei-lhe uma bronca, dizendo que estava muito frio para que ele estivesse sem nem um agasalho, imaginando que fosse mais um garoto travesso, que ao invés de estar em casa, ficava na pracinha em frente ao colégio esperando os outros enquanto a mãe deveria estar preocupada. Então ele me respondeu:" olha,tia,ainda bem que eu não sou de sentir tanto frio,senão eu tava ferrado mesmo, porque eu não tenho blusa de manga comprida nem calça comprida e nem tênis pra vim na escola ... e eu tô aqui aguentando porquê seu filho é muito legal e não fica rindo de mim porquê eu nao tenho roupa e eu gosto muito quando ele brinca comigo ..."

Eu tive que tirar forças nem sei de onde para poder falar! Pedi que eles esperassem um pouquinho que eu voltaria em um minuto; então eu me escondi atrás de uma árvore e chorei ... eu senti uma dor tão imensa que eu não conseguia sair do lugar. Me deixei ficar ali, por mais um minuto ou dois, tentando fazer com as lágrimas parassem de cair.Então eu me lembrei que sempre punha na mochila dos garotos uma muda de roupa. Voltei para aonde eles estavam; sem que os garotos percebessem, tirei as roupas extras das mochilas,coloquei em uma sacolinha e entreguei ao Lázaro. Ele sorriu, me agradeceu com um beijo e um abraço e disse que iria correndo para casa mostrar á sua mãe o "presente" que havia ganhado. Eu perguntei aonde ele morava e como era perto da nossa casa, eu o convidei a seguir conosco. Foi então que percebi que ele também não tinha mochila, seus (poucos) materiais estavam em uma sacolinha plástica, dessas de supermercado...

Ainda que eu viva cem anos, jamais me esquecerei dos olhos de Lázaro! Aquele rostinho magro porém tranquilo, sua atitude simples mas corajosa, a alegria por simplesmente poder brincar e uma paz que poucas crianças conseguem transmitir, a não ser quando estão dormindo, como anjinhos. Eu gostaria muito que o post de hoje fosse alegre ou engraçado, mas ainda não consegui apagar o que senti; ontem á noite eu pedi á Deus, com todas as forças, que um dia Lázaro se levante e ande, rumo a um futuro lindo e que nada mais lhe falte ...